Negar o lado escuro de nossa personalidade, ou não lhe dar importância, é subestimar a sutileza de seu poder atuante em nossos comportamentos e atitudes. É imprescindível admitir nossa face desconhecida, pois só podemos nos redimir ou transformar até onde conseguimos nos ver. Utilizamos o mecanismo da repressão para nos desviar da nossa própria realidade; desprezamos o nosso lado frágil e nos distanciamos das verdadeiras intenções egoísticas que mobilizam nossas condutas diárias. Passamos, a partir daí, a construir uma auto-imagem de perfeição que nos torna "falsos realizadores do bem" ou "profissionais do altruísmo". Nenhum processo de crescimento é possível até que a sombra seja adequadamente confrontada. Confrontá-la significa examiná-la com atenção e admiti-la plenamente. A denominação de "sombra" refere-se às partes desconhecidas da personalidade que foram banidas da realidade, pois o homem não quer vê-las em si mesmo. A melhor postura para nos renovarmos no bem e colaborarmos verdadeiramente com a transformação espiritual daqueles que nos rodeiam é lembrarmo-nos de nossa condição de almas em aprendizagem e permanecermos alicerçados na realidade daquilo que somos e podemos fazer, e não na ilusão do que deveríamos ser ou fazer, ou que "acreditamos" ser. A consciência lúcida acerca da sombra impulsiona a criatura a não mais buscar uma vítima: alguém ou alguma coisa para acusar e atacar. Não mais precisando ser impecavelmente correta e bondosa, não fará dos outros alvo de seus infortúnios. Apenas quando nossas fragilidades deixarem de ser demonizadas é que seremos levados a lidar com elas em termos de experiência evolutiva. A lucidez dá integridade ao homem, mostrando-lhe que deve aceitar a si mesmo. Ao mesmo tempo, faculta-lhe uma visão clara que o impedirá de projetar seus pontos fracos nos outros, o que facilitará ampla compreensão dos que com ele convivem.
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